sábado, janeiro 29, 2005
Um novo rumo
Portugal precisa, urgentemente, de encontrar um desígnio e um rumo que voltem a mobilizar a sociedade, que renovem a esperança e a confiança, que permitam recuperar os nossos atrasos, que promovam o desenvolvimento económico e a coesão social, e que visem colocar Portugal ao nível dos países mais avançados da UE.
Para definir esse desígnio e esse rumo, há, certamente, que ter em consideração a multiplicidade de desafios a enfrentar e de questões concretas a resolver no âmbito da organização e funcionamento do Estado, da sociedade, da economia, etc., seja no curto prazo, seja no médio-longo prazos. Mas importa fundamentalmente identificar, com acutilância e rigor, a estratégia central a seguir para vencer esses desafios e resolver essas questões.
Como foi bem sublinhado por António Guterres na conferência sobre "O Plano Tecnológico e o Futuro da Estratégia de Lisboa", realizada no CCB no passado dia 24 de Janeiro, estamos perante a emergência de um novo paradigma civilizacional onde o conhecimento qualificado é a riqueza determinante e onde, portanto, a valorização dos recursos humanos se torna uma prioridade absolutamente decisiva.
Deve dizer-se, em abono da verdade, que esta emergência e esta prioridade já há muito vinham a ser percepcionadas e assumidas em países que, por isso mesmo, têm evidenciado um alto nível de progresso civilizacional, como é o caso, na Europa, dos países nórdicos. Recordo, a propósito, que este foi também um dos factores decisivos das profundas alterações introduzidas nos EUA pela Administração Kennedy, no início dos anos 60, e que permitiram àquele país superar, em menos de dez anos, a supremacia evidenciada pela então URSS, em termos de tecnologia espacial, com tudo o que isto significava, desde o lançamento em órbita, em 1957, do Sputnik I, o primeiro satélite artificial.
Deve dizer-se que, também em Portugal, a prioridade a dar ao conhecimento, à inovação e à qualificação tem vindo a ser defendida, de forma fundamentada, em diversos estudos e trabalhos de relevo, de que destaco o trabalho "A Engenharia e a Tecnologia ao Serviço de Desenvolvimento de Portugal: Prospectiva e Estratégia, 2000-2020", resultante do projecto "Engenharia e Tecnologia 2000" promovido pela Academia de Engenharia, pela Ordem dos Engenheiros e pela Associação Industrial Portuguesa e desenvolvido durante o ano 2000 com o envolvimento de cerca de 500 especialistas de 300 instituições.
Não foi aliás, por acaso, que o Governo de António Guterres encetou, na segunda metade dos anos 90, uma política de valorização dos recursos humanos baseada na prioridade à educação, a qual, infelizmente, veio a ser posteriormente interrompida pelo Governo de Durão Barroso.
Também a chamada "Estratégia de Lisboa", defendida pelo Governo Português e aprovada pelo Conselho Europeu na sua reunião realizada em Lisboa em Março de 2000, e que visa acelerar a transição da UE para uma economia e uma sociedade baseadas no conhecimento, assume claramente o novo paradigma civilizacional do nosso tempo.
Ora é precisamente no que se refere à estratégia central a seguir pelo nosso País que a proposta política do Partido Socialista se mostra, comparativamente com as dos demais partidos, mais consistente e mais adequada às exigências do momento que vivemos. Na realidade, ao eleger a aposta no conhecimento, na inovação e na tecnologia como o eixo fundamental orientador da estratégia de modernização e desenvolvimento económico-social do País, traduzida no lançamento e implementação de um ambicioso Plano Tecnológico com larga visão social, o PS reconhece as características essenciais do mundo actual, altamente globalizado e competitivo, assume uma rotura significativa com a orientação política vigente nos últimos anos, e aponta um rumo exigente mas promissor de um futuro melhor para o País, de acordo com as orientações definidas na "Estratégia de Lisboa" e que deverão nortear a discussão e negociação do próximo Quadro Comunitário de Apoio.
Um rumo que, para poder ser seguido, exige também a determinação, a seriedade, a competência e a estabilidade governativas que têm faltado nos últimos anos.
(Artigo publicado no "Diário Económico" de 27.Jan.2004)